Características Anatômicas dos Dentes Decíduos
Autores
Isadora Alves – Graduanda em Odontologia, UFPR.
Yohana Lourenço Dias – Graduanda em Odontologia, UFPR.
Profa. Dra. Luciana Reichert da Silva Assunção – Professora da disciplina de Odontopediatria, UFPR.
Dentição Decídua
A dentição decídua contempla 20 elementos na cavidade bucal, com funções importantes que incluem o auxílio no desenvolvimento muscular da face, na formação óssea e no crescimento dos arcos dentários. Além disso, mantém o espaço necessário para que os dentes permanentes irrompam e se alinhem nos arcos.
Para o odontopediatra ou o clínico geral que lida com crianças, é essencial conhecer a anatomia dentária, um segmento da anatomia que estuda o órgão dentário e suas estruturas de suporte. Assim, dominar a anatomia dos dentes decíduos auxilia muito em vários momentos da prática clínica, como: na reabilitação dentária em casos de perda de estrutura, em procedimentos cirúrgicos, em terapias pulpares e tratamentos ortodônticos, além do diagnóstico precoce de lesões cariosas, em razão da forma específica de cada dente.
Para identificar cada elemento dentário e representá-los graficamente, vários sistemas de notação já foram desenvolvidos, sendo o principal deles o Sistema da Federação Dentária Internacional (FDI). Nesta notação, a cavidade bucal é dividida em quadrantes, formados por dois traços, um vertical que separa os lados esquerdo e direito, e um horizontal, que divide os arcos em superior e inferior. Utilizam-se dois dígitos para identificar os elementos dentários, o primeiro, referente ao quadrante e o segundo referente ao dente, como representado abaixo:
Fonte: https://oodontoworld.wordpress.com/2019/04/29/notacao-dentaria-denticao-decidua/ |
Fonte: https://portalabol.com.br/rbol/index.php/RBOL/article/view/13/51 |
Características dos
dentes decíduos
Os dentes decíduos possuem algumas particularidades com relação às suas estruturas, tamanho e coloração. São menores que os dentes permanentes, com coroas mais baixas e largas, possuem sulcos e margens cervicais mais acentuados, e as superfícies vestibulares e linguais dos molares convergem para a oclusal. Com relação às superfícies proximais dos incisivos e caninos, há uma convexidade maior e estreitamento do colo, fazendo com que ocorram faces de contato entre esses dentes, diferentemente dos permanentes, onde há apenas pontos de contato. O esmalte dentário decíduo possui coloração mais clara e opaca, dando à coroa um aspecto branco-leitoso, é mais permeável, podendo ser facilmente desgastado e tem espessura igual em todas as faces. Suas raízes são menores e mais finas, se comparado aos dentes permanentes, e também sofrem um início de processo de reabsorção um ou dois anos após estarem completamente formadas. Proporcionalmente, a raiz do dente decíduo tem cerca de duas vezes o tamanho da coroa e nos dentes posteriores, são divergentes para permitir o desenvolvimento do germe do dente permanente. Por fim, a câmara pulpar dessa dentição é maior, possuindo assim, menos tecido dentário de proteção (esmalte e dentina).
Fonte: https://pt.slideshare.net/thiaracerqueira3/dentio-decdua-23948625 |
Características anatômicas Individuais:
A dentição decídua contém três grupos dentários, os incisivos, caninos e molares, cada um com funções e características próprias. O grupo dos incisivos possui quatro dentes em cada arco, dois denominados centrais e dois laterais, estão localizados mais anteriormente e sua função principal é cortar os alimentos. Na sequência estão os caninos, sendo dois em cada arco, com função de segurar e rasgar. Os últimos dentes, localizados posteriormente, são os molares, com função de moer e triturar os alimentos. Esse grupo possui oito dentes, sendo quatro em cada arco dentário.
Na sequência do texto abordaremos os dentes decíduos e suas características individuais com imagens esquemáticas e autoexplicativas para facilitar a compreensão da leitura.
Fonte: Atlas de Anatomia Dental - Uninove (modificada) |
Fonte: http://umpoucodeodonto.blogspot.com/2017/05/estruturas-anatomicas-gerais-acidentes.html |
Fonte: https://www.odontologistas.com.br/odontologistas/o-primeiro-molar-permanente/https://www.odontologistas.com.br/odontologistas/o-primeiro-molar-permanente/ |
Fonte: Atlas de Anatomia Dental - Uninove (modificada) |
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
2. Incisivo Lateral Superior
Os incisivos laterais superiores possuem o comprimento
cervicoincisivo maior que a largura mesiodistal, tornando-os diferentes dos
centrais nesse aspecto, além de serem menores em suas dimensões quando
comparado aos incisivos centrais. A face vestibular é convexa, enquanto que a
face lingual é côncava e estreita, com estruturas menos desenvolvidas. A borda
incisiva é reta, porém com ângulo distoincisivo mais arredondado e a raiz
desses dentes é mais longa com relação a coroa, se comparada com os incisivos
centrais.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
3. Incisivo Central Inferior
Os incisivos centrais inferiores possuem formato trapezoidal,
com dimensão cervicoincisiva maior que a mesiodistal. A face vestibular é
plana, e a face lingual possui estruturas menos pronunciadas, se comparado aos
incisivos superiores. As faces proximais são triangulares e suas superfícies
estão dispostas paralelamente no sentido cervicoincisivo. No geral, a borda
incisiva possui ângulos vivos, sendo o lado distal levemente arredondado. Estes
dentes possuem raiz longa e única, sendo duas vezes o tamanho da coroa, além de
possuir uma transição definida entre a câmara pulpar e o canal radicular.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
4. Incisivo Lateral Inferior
Comparado aos incisivos centrais inferiores, esses dentes
apresentam dimensões maiores e são menos simétricos. Em sua face lingual,
apresentam cíngulo mais desenvolvido e desviado para o lado distal. Sua face
proximal distal é menor em tamanho que a face mesial, mas possui uma
convexidade maior. Estes dentes possuem raiz alongada e estreita, com desvio
para vestibular e distal.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
5. Canino Superior
Os caninos superiores possuem dimensões mesiodistal e
cervicoincisiva semelhantes, com aspecto mais robusto. Sua face vestibular
possui forma de lança, é bastante convexa e apresenta uma cúspide pontiaguda. A
face lingual possui cristas marginais, cíngulo e fossa bem evidentes, podendo
ser dividida em dois lados, devido à existência de um tubérculo unindo a ponta
da cúspide ao cíngulo. A face proximal distal é menor e a ponta da cúspide é
levemente inclinada nesta direção. A raiz destes dentes têm formato cônico, é
robusta e possui uma leve inclinação para a vestibular.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
6. Canino Inferior
Comparando os caninos inferiores com seus
antagonistas, possuem a coroa mais alta do que larga, convergindo
para a lingual. Nesta face está presente apenas uma fossa e seu tamanho é menor
em razão do desvio da coroa. Sua face proximal mesial é maior e menos convexa
que a distal. A raiz possui achatamento no sentido mesiodistal, é mais curta,
se comparada ao canino superior, e possui canal radicular único.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
7. Primeiro Molar Superior
Os primeiros molares superiores são os dentes mais atípicos
desse grupo, sendo semelhantes aos pré-molares superiores. Sua coroa é mais
larga do que alta, com grande constrição no colo. A face vestibular é plana,
com formato trapeizodal e possui uma proeminência no seu ângulo
mesiovestibulocervical, o Tubérculo Molar de Zuckerkandl. A face lingual é mais
convexa e menor que a vestibular. O formato trapezoidal continua também nas
faces proximais, sendo a distal menor e mais convexa, levando à uma
convergência da coroa nessa direção. A oclusal desses dentes pode apresentar
três ou quatro cúspides, lingual, mesiovestibular e distovestibular, em ordem
decrescente de tamanho. A quarta cúspide, denominada distolingual, quando
estiver presente, será considerada a menor de todas. Ainda nessa face, estão
presentes fossas, fossetas, sulcos principais e secundários e em 80% dos casos
há uma crista oblíqua unindo as cúspides distovestibular e mesiolingual. Estes
dentes possuem três raízes bastante divergentes, duas vestibulares, mais curtas
e retas e uma lingual, mais longa e curvada, cada uma com um canal radicular
único. A câmara pulpar conta com três ou quatro cornos pulpares e segue o
formato externo da coroa.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
8. Segundo Molar Superior
Os segundos molares superiores apesar
de menores, possuem semelhança com os primeiros molares superiores permanentes.
Através da sua face vestibular, nota-se além de duas cúspides, a presença do
tubérculo Molar de Zuckerkandl, no ângulo mesiovestibulocervical. Sua face
lingual também possui duas cúspides e no lado mesial, o tubérculo de Carabelli,
pouco desenvolvido. Pela vista oclusal é possível visualizar as quatro
cúspides, mesiolingual, mesiovestibular, distovestibular e distolingual, em
ordem decrescente de tamanho, além de fossas, fossetas e sulcos. Uma crista
oblíqua une as cúspides mesiolingual e distovestibular. Há ainda a presença de
três raízes, com canais radiculares únicos, duas vestibulares e uma lingual,
sendo a distovestibular a mais curta. A câmara pulpar é ampla e possui quatro
cornos pulpares.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
9. Primeiro Molar Inferior
Os primeiros molares inferiores não apresentam semelhança com nenhum outro dente. Sua face vestibular tem formato trapezoidal e possui o lado distal menor que o mesial. Por essa vista, observam-se duas cúspides e uma proeminência no ângulo vestibulomesiocervical, o Tubérculo Molar de Zuckerkandl. A face lingual é mais convexa, menos inclinada e menor, possuindo duas cúspides, divididas por um sulco de desenvolvimento. Assim como a face vestibular, as faces proximais possuem o formato trapezoidal, com a superfície distal mais convexa e menor que a mesial. A superfície oclusal tem formato achatado e contempla as quatro cúspides, mesiolingual, mesiovestibular, distovestibular e a distolingual, em ordem decrescente de tamanho. Por essa vista, nota-se ainda, a presença de cristas marginais e oblíquas, fossas, fossetas, um sulco de desenvolvimento central e sulcos secundários, além de um sulco que serve de escape durante a mastigação. Esses dentes possuem duas raízes, a mesial e a distal, ambas são planas, bem divergentes, largas e achatadas. A raiz mesial possui dois canais radiculares, enquanto que a raiz distal apenas um. A cavidade pulpar conta com quatro cornos pulpares.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
10. Segundo Molar Inferior
Os segundos molares inferiores, apesar das dimensões reduzidas, são semelhantes aos primeiros molares permanentes. Sua face vestibular apresenta três cúspides com tamanhos similares, a mesiovestibular, distovestibular e a distal, além do Tubérculo de Zuckerkandl, no ângulo mesiovestibulocervical. A face lingual possui duas cúspides que são maiores em altura que as da face vestibular, mas com mesma medida na largura mesiodistal. As faces proximais possuem formato trapezoidal e a crista marginal mesial é mais alta, conferindo a esses dentes um aspecto inclinado. Pela face oclusal, observam-se as cinco cúspides, sendo a mesiolingual a maior, seguida da distolingual, distovestibular, mesiovestibular e por fim a distal. Nessa face, há a presença de sulcos principais, secundários, fossas e cristas. As raízes, mesial e distal, são separadas, finas e compridas, sendo que a primeira possui dois canais radiculares, e a segunda, apenas um. A câmara pulpar contém cinco cornos pulpares que correspondem às cinco cúspides.
Fonte: Atlas de Anatomia dental - Uninove |
Tabela Resumo
|
Vestibular |
Lingual |
Mesial |
Distal |
Incisal |
Raízes |
Incisivo Central Superior |
Plana com formato trapezoidal |
Cíngulo, fossa e cristas marginais bem evidentes |
Maior e plana |
Menor e convexa |
Borda Incisiva reta |
Raiz cônica |
Incisivo Lateral Superior |
Convexa com formato trapezoidal |
Estreita e côncava, com estruturas
menos evidentes |
Maior e plana |
Menor e convexa |
Borda incisiva com ângulo
distoincisivo mais arredondado |
Raiz longa com desvio para
vestibular e distal |
Incisivo Central Inferior |
Plana com formato trapezoidal |
Estreita com estruturas menos
evidentes |
Convexa |
Convexa |
Borda incisiva reta com ângulos
vivos |
Raiz longa |
Incisivo Lateral Inferior |
Formato trapezoidal |
Côncava com cíngulo desviado para a
distal |
Maior e menos convexa |
Menor e mais convexa |
Borda incisiva reta |
Raiz mais longa e afilada |
|
Vestibular |
Lingual |
Mesial |
Distal |
Incisal |
Raízes |
Canino Superior |
Convexa, com formato de lança e com
cúspide pontiaguda |
Convexa, com tubérculo que une a
ponta de cúspide ao cíngulo |
Maior e menos convexa |
Menor e mais convexa |
Borda distal da cúspide menos
inclinada |
Raiz robusta com formato cônico e
inclinada para a vestibular |
Canino Inferior |
Convexa |
Menor, com apenas uma fossa evidente |
Maior e menos convexa |
Menor e mais convexa |
Borda mesial da cúspide menor que a
distal |
Raiz achatada no sentido mesiodistal |
|
Vestibular |
Lingual |
Mesial |
Distal |
Oclusal |
Raízes |
Detalhes anatômicos |
Primeiro Molar Superior |
Plana com formato trapezoidal e duas cúspides |
Menor e mais convexa, com uma ou
duas cúspides |
Maior e menos convexa |
Menor e mais convexa |
Presença de três ou quatro cúspides |
Três raízes divergentes, duas
vestibulares e uma lingual |
Tubérculo Molar de Zuckerkandl |
Segundo Molar Superior |
Presença de duas cúspides |
Presença de duas cúspides e
tubérculo de Carabelli no lado mesial |
Maior e menos convexa |
Menor e mais convexa |
Presença de quatro cúspides |
Três raízes, duas vestibulares e uma lingual |
Tubérculo Molar de Zuckerkandl e
Tubérculo de Carabelli |
Primeiro Molar Inferior |
Formato trapezoidal com duas cúspides |
Menos inclinada, menor e mais
convexa, com duas cúspides |
Maior e menos convexa |
Menor e mais convexa |
Presença de quatro cúspides |
Duas raízes (mesial e distal),
planas, largas e divergentes |
Tubérculo Molar de Zuckerkandl |
Segundo Molar Inferior |
Três cúspides com tamanhos
semelhantes |
Presença de duas cúspides maiores
que as vestibulares em altura |
Crista marginal mesial mais alta |
Crista marginal distal mais baixa |
Presença de cinco cúspides |
Duas raízes (mesial e distal),
longas, finas e divergentes |
Tubérculo Molar de Zuckerkandl |
Referências
GUEDES-PINTO, Antonio Carlos. Odontopediatria.
9. ed. Rio de Janeiro: Santos Editora, 2017.
MADEIRA, Miguel Carlos; RIZZOLO, Roelf J. Cruz. Anatomia do dente. 8. ed. São Paulo:
Sarvier, 2016. 166 p.
TENÓRIO, Maria Dânia Holanda; COTA, Ana Lídia;
TENÓRIO, Diene Maria Holanda. Importância
da anatomia dos dentes decíduos para os procedimentos clínicos. Odontologia
Clínica Científica, Recife, v. 1, n. 8, p. 21-28, Janeiro, 2009.
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