Estágios de Desenvolvimento de Nolla

 

Autores

Aline Umemura - Mestranda em Odontopediatria do Programa de Pós-graduação em Odontologia, UPFR
Isadora Alves - Graduanda em Odontologia, UFPR
Yohana Lourenço Dias - Graduanda em Odontologia, UFPR
Profa. Dra. Juliana Feltrin de Souza Caparroz – Professora da disciplina de Odontopediatria, UFPR.

Desenvolvimento da dentição decídua 

  Diversos pesquisadores tentaram propor modelos para avaliação desses estágios, porém, o mais aceito e utilizado atualmente é o estudo de Carmen M. Nolla (1960), no qual foi avaliado radiograficamente as etapas de desenvolvimento do dente permanente, desde o início da formação da coroa até a completa formação da raiz.

  A dentição decídua inicia seu desenvolvimento ainda no período pré-natal e concomitantemente, ocorre também o início do desenvolvimento da dentição permanente, como já exposto em publicações anteriores do blog (Clique e confira o post de desenvolvimento da dentição decídua). A partir de agora abordaremos os estágios de desenvolvimento dos dentes permanentes e a importância desse acompanhamento para a prática clínica do cirurgião-dentista.

  O conhecimento dos estágios de calcificação dos dentes permanentes, como proposto por Nolla, é importante em diversos aspectos, principalmente para determinar o grau de maturidade dessa dentição, contribuindo para o melhor diagnóstico, tratamento e tomada de decisões clínicas.

  Além disso, essa classificação pode ser usada para determinar tanto a idade dentária e fisiológica dos pacientes quanto prever a idade cronológica e servir como meio de comunicação entre dentistas.

Mas afinal, o que são os estágios de desenvolvimento de Nolla?

  Os estágios de Nolla representam as etapas de desenvolvimento dos dentes permanentes, de acordo com o seu grau de calcificação. A representação desses estágios é feita através de uma escala, com números de 0 a 10.

Como esses estágios foram desenvolvidos?

  Para saber como eles foram desenvolvidos temos que observar as características do estudo proposto por Nolla, intitulado “O desenvolvimento dos dentes permanentes”. No estudo, Nolla avaliou diversas radiografias com o intuito de acompanhar o desenvolvimento dos dentes de um indivíduo por diversos anos consecutivos, para obter um índice ou técnica capaz de analisar o desenvolvimento dos dentes permanentes de forma detalhada, e também determinar a idade dentária. Com isso, seria possível definir regras para avaliar o desenvolvimento individual dos dentes, bem como analisar as diferenças de cada indivíduo no desenvolvimento dentário.

Como foi realizado o estudo?

  Nolla utilizou como materiais para seu estudo um conjunto de radiografias de 25 meninas e 25 meninos, obtidas do Laboratório de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Michigan. Cada conjunto (radiografias extra-orais, periapicais e oclusais) havia sido registrado uma vez por ano, próximo ao aniversário de cada criança, obtendo no total 1746 radiografias de meninas e 1656 de meninos.
  As imagens radiográficas foram analisadas, utilizando uma mesa específica que permite ver os detalhes nitidamente, e se obteve a partir delas uma tabela representativa, em forma de desenho, que mostra qual é, radiograficamente, a aparência dos dentes nos diversos estágios de desenvolvimento.
  Primeiramente observa-se nas radiografias uma estrutura denominada cripta, com aspecto radiolúcido e formato circular. Dentro dessa estrutura ocorrerá o desenvolvimento do germe do dente permanente. Na sequência há o início da calcificação dentária e pequenos pontos radiopacos são observados na porção coronal da cripta. Essa calcificação continua ao longo do desenvolvimento e se torna cada vez mais evidente, sendo possível observar a delimitação da polpa conforme avançam os estágios. Chegando ao estágio final do processo de maturação nota-se a completa formação do ápice da raiz dentária.

Fonte:

https://www.dentalage.co.uk/wp-content/uploads/2014/09/nolla_cm_1960_development_perm_teeth.pd

Figura 1: Estágio de Desenvolvimento dos Dentes Permanentes - Figura original do artigo


Fonte: https://www.passeidireto.com/arquivo/73914281/estagios-d-nolla

Figura 2: Estágios de Desenvolvimento dos dentes permanentes - 
Esquema atual modificado
  Além de observar os estágios de desenvolvimento dentário, o estudo contou com uma avaliação individual de cada dente, comparando as suas imagens radiográficas com o desenho esquemático obtido. Por exemplo, se na radiografia de determinado dente fosse observado que 1 ⁄ 3 da sua coroa estivesse formada, o código 3 de Nolla seria atribuído. Caso o grau de desenvolvimento observado na radiografia estivesse entre dois estágios, este seria representado adicionando o valor 0,5 ao código.

Fonte: https://www.dentalage.co.uk/wp-content/uploads/2014/09/nolla_cm_1960_development_perm_teeth.pd

Figura 3: Radiografia do primeiro molar permanente no estágio 6 de Nolla

  No fim do estudo, a partir do desenho esquemático e da avaliação individual de cada dente, foi possível determinar a idade dentária e o grau de maturação da dentição permanente dos indivíduos participantes do estudo. Os dados mais relevantes e que permitem avaliar se um indivíduo está acima, abaixo ou na média padrão de desenvolvimento, são os que mostram uma correlação entre idade/estágio de Nolla, formando as chamadas curvas normais do desenvolvimento dentário, mostrada abaixo.

Fonte: https://www.dentalage.co.uk/wp-content/uploads/2014/09/nolla_cm_1960_development_perm_teeth.pdf

Figuras 4 e 5: Grau de desenvolvimento normal de cada dente nas diferentes idades, para meninos e meninas.

Fontehttps://www.dentalage.co.uk/wp-content/uploads/2014/09/nolla_cm_1960_development_perm_teeth.pdf

Figura 6: Curvas normais de desenvolvimento de todos os dentes (maxilares e mandibulares), para meninos e meninas.

  Pode-se observar através das tabelas e gráficos os padrões de desenvolvimento para cada faixa etária, por exemplo: aos 60 meses de idade (5 anos), o ideal para uma menina é obter o valor 80 na somatória dos estágios de nolla, para todos os dentes maxilares e mandibulares. Já para um menino de mesma idade, o ideal é obter nessa somatória o valor 70.

  No entanto, apesar dessas curvas serem um meio de comparação para determinar se o paciente possui um padrão normal de desenvolvimento, elas não devem ser consideradas normas rígidas, já que cada indivíduo tem suas particularidades e características fisiológicas, que podem influenciar no crescimento e formação dentária.

Quais foram as conclusões de Nolla?

Após analisar os dados de desenvolvimento individual de cada dente obtidos no estudo, Nolla concluiu que:

1.    Todos os dentes se desenvolvem da mesma maneira, passando pelos estágios citados.

2.    Observou que não há diferenças, entre meninos e meninas, nas taxas e na sequência de desenvolvimento dentário.

3.    Em relação aos lados direito e esquerdo das arcadas dentárias, poucas diferenças de desenvolvimento foram notadas.


Comparação entre métodos de avaliação do desenvolvimento dentário

  Além do estudo proposto por Nolla, outros métodos de avaliação do desenvolvimento dos dentes permanentes foram elaborados. Um exemplo é o estudo de Demirjian, um método simples, de fácil padronização e com uma grande aplicabilidade clínica. Esse estudo é baseado na observação de sete dentes mandibulares, sendo identificados oito estágios de mineralização para cada dente, representados por letras de A à H. Apesar desse método ser de fácil aplicação clínica, diversos estudos que o adotaram obtiveram a idade dentária superior à idade cronológica, tendo uma superestimação da mesma, tornando assim, o estudo menos preciso que o proposto por Nolla. A revisão sistemática proposta por Dr. Emanuele Fantasia, confirma tal afirmação, já que ao avaliar 42 estudos comparando os métodos de Demirjian e Nolla, constatou-se que o primeiro previa 47,5% da idade cronológica dos participantes a partir da idade dentária, enquanto que o segundo previa 64,4%, sendo este, mais preciso.

Fonte: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/25/25132/tde-02062011-095629/publico/FernandoToledodeOliveira.pdf

Figura 7: Estágios de desenvolvimento propostos por Demirjian


Considerações finais

  Os métodos de avaliação do desenvolvimento dentário possuem um papel importante no diagnóstico e no plano de tratamento de diversas condições clínicas, sendo frequentemente utilizados em conjunto a fim de obter a melhor análise dentária. No entanto, o estudo proposto por Nolla ainda é o mais reconhecido e com maior uso clínico entre os profissionais da  Odontologia.

Aplicabilidade dos Estagios de Nolla na prática clínica: 

     Casos de perda precoce de elementos decíduos: nessa situação clínica os estágios de Nolla são usados para verificar se o dente permanente está com o desenvolvimento necessário para irromper na cavidade bucal, ou se é preciso intervir com mantenedores de espaço, enquanto o dente continua seu desenvolvimento até irromper.

     Casos de atraso de irrupção: nessa situação clínica, na qual o dente permanente não aparece na cavidade bucal no intervalo de tempo esperado, os estágios de Nolla são usados para avaliar se esse atraso ocorre por problemas no desenvolvimento do dente ou se ele já se encontra totalmente desenvolvido, mas não irrompeu devido a outras circunstâncias. Nesse caso, torna-se necessário intervir com técnicas cirúrgicas e ortodônticas. 

     Casos de comprometimento pulpar em dentes decíduos: na situação clínica em que o dente decíduo se encontra sem vitalidade pulpar, indicando necrose, a avaliação do estágio de Nolla do sucessor permanente pode determinar a conduta clínica a ser seguida, por exemplo, se é necessário realizar uma endodontia nesse dente ou se deve-se optar pela exodontia.

     Casos com necessidade de intervenção ortodôntica: os estágios de Nolla também são utilizados na área da ortodontia preventiva e interceptadora, já que a idade dentária é um fator que auxilia a determinação de qual o momento ideal para iniciar o tratamento ortodôntico, seja no dilema de tracionar ou não um elemento dentário ou na definição de quando instalar dispositivos para alinhamento de dentes apinhados. 


Referências

NOLLA, Carmen M. The Development of The Permanent Teeth. Journal Of Dentistry For Children, v.27, n.4, p. 254-266, nov. 1960. Disponível em: https://www.dentalage.co.uk/wp-content/uploads/2014/09/nolla_cm_1960_development_perm_teeth.pdf. Acesso em: 25 mar. 2021

LOPES, Luciana Jácome et al. Dental age assessment: which is the most applicable method?. Forensic Science International, [S.L.], v. 284, p. 97-100, mar. 2018. Elsevier BV. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.forsciint.2017.12.044. Acesso em: 25 mar. 2021

FANTASIA, Emanuele et al. Comparison between Nolla and Demirjian dental age assessment methods: a systematic review. Webmedcentral Orthodontics, [S.L.], v. 7, n. 10, 28 out. 2016. Disponível em: http://www.webmedcentral.com/article_view/5202. Acesso em: 25 mar. 2021

LIMA, Eduardo Martinelli de et al. Velocidade de Erupção de Caninos Permanentes Superiores e Segundos Pré-Molares Inferiores de Acordo com os Estágios de Nolla. Revista Ortodontia Gaúcha, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 5-11, jun. 2008. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Eduardo-De-Lima/publication/266385303. Acesso em: 25 mar. 2021

OLIVEIRA, Fernando Toledo de. Estimativa da idade cronológica por meio de avaliação radiográfica da mineralização de terceiros molares e altura do ramo da mandíbula. 2010. 95 f. Tese (Doutorado) - Curso de Odontologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/25/25132/tde-02062011-095629/publico/FernandoToledodeOliveira.pdf.  Acesso em: 25 mar. 2021.

ESTÁGIOS de Nolla. Caderno de Odonto, 2013. Disponível em: https://cadernodeodonto.wordpress.com/2013/12/02/estagiosdenolla/. Acesso em: 25 mar. 2021.

CIMADON, Esthefania. O que são os estágios de Nolla?. Saber Odonto, 2018. Disponível em: https://saberodonto.blogspot.com/2018/08/estagios-de-nolla.html. Acesso em: 25 mar. 2021

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Características Anatômicas dos Dentes Decíduos

Características da oclusão na dentição decídua