Higiene Bucal na Infância
Autores
Bruna Cristine Dias – Graduanda em Odontologia, UFPR.
Renata Ceni – Graduanda em Odontologia, UFPR.
Prof. Dr. Fabian Calixto Fraiz - Professor da disciplina de Odontopediatria, UFPR.
Profa. Dra. Luciana Reichert da Silva Assunção – Professora da disciplina de Odontopediatria, UFPR.
Higiene bucal na infância
A orientação de higiene bucal na odontopediatria é muitas vezes negligenciada pelos cirurgiões-dentistas, mas deve ser considerada uma atividade essencial em todos os planos de tratamento, dada sua importância no controle de doenças bucais, como a cárie dentária e a gengivite. A prevenção de doenças bucais através do controle do biofilme tem maiores possibilidades de sucesso em pacientes motivados, que receberam orientação e treinamento sobre como realizar uma higiene bucal adequada. Então como deve ser realizada a orientação e o treinamento para a higiene bucal?
Fonte: https://bebe.abril.com.br/familia/itens-de-higiene-bucal-para-criancas/ |
Modificar hábitos não é uma tarefa fácil, portanto a atenção odontológica deve ocorrer de forma contínua e dinâmica, fazendo com que a promoção, educação e supervisão em saúde aconteça consulta após consulta, tanto com a criança, quanto com os pais/responsáveis. Por isso esta fase de aprendizagem é tão importante, após passarem por esse processo educativo, o ato de escovar os dentes passa a se tornar rotineiro, ou seja, se torna um hábito.
A aquisição de conhecimento é indispensável para a motivação da criança e seus responsáveis. Pais/responsáveis conscientes de seu papel educativo, certamente terão maior facilidade de aderir a ideia de prevenção das doenças bucais através de ações domiciliares, como a escovação dentária. Para torná-los confiantes em suas habilidades para a execução e motivação da higiene bucal em seus filhos, podemos utilizar diversos recursos. A demonstração (treinamento) de como executar a higiene bucal deve ser complementada por fotos, vídeos e textos sobre os fatores que envolvem o processo saúde-doença, e como a higiene bucal e o controle da dieta (no caso da cárie), podem evitar os principais problemas bucais.
Fatores que interferem nesse processo:
1. Rotina: A rotina é importante para o desenvolvimento infantil, crianças que possuem uma rotina de atividades se sentem mais seguras e menos ansiosas, pois conseguem prever o que irá acontecer durante o dia. Isto facilita a formação de hábitos, pois a criança passa a entender que logo após suas refeições ocorrerá o momento da escovação.
2. Modelagem: É importante demonstrar aos pais/responsáveis como o exemplo têm influência nas decisões dos seus filhos. Quando os pais escovam os dentes junto com seus filhos, compartilham o hábito da higiene bucal e se tornam modelos a serem seguidos.
3. Medo: Em crianças difíceis de manejar, devemos conversar com os pais a respeito dos fatores que possam estar influenciando esse comportamento. Por exemplo, uma postura negativa da criança em relação ao ato de escovar pode ser devido à força exercida pelos pais com a escova, ou à local da escovação pouco adequado fisicamente à criança, ou simplesmente medo. A adequação do local à altura da criança e a utilização de estratégias lúdicas podem trazer benefícios. A ato de contar histórias, utilização de livros, estimulação através de desenhos, dentre outros, são recursos que transformar o momento da escovação em uma atividade prazerosa para a criança e mais tranquila para os pais.
4. Posição: O ambiente da escovação e a posição dos pais em relação aos seus filhos durante a higiene também influenciam o momento da escovação. É necessário que a criança se sinta confortável e segura durante o processo.
Controle mecânico do biofilme
Através da higiene bucal é realizado o controle mecânico do biofilme.
Os objetivos do controle mecânico são: eliminar depósitos de resíduos alimentares, microrganismos e matéria não calcificada da estrutura dentária, controlar do biofilme, aumentar o acesso ao flúor e estabelecer o hábito de higiene bucal.
Quando iniciar a higiene bucal na criança ?
Os pais devem iniciar a higiene nos seus filhos quando irrompem os primeiros dentes, com escova dental adequada e dentifrício fluoretado (mínimo 1.000 ppm de flúor).
IMPORTANTE: A criança deve ser incentivada a cuspir o dentifrício a partir do momento em que possua entendimento para tal, porém sabemos que até aproximadamente os 6 anos de idade a criança pode apresentar dificuldade para expelir todo o dentifrício, por isso deve-se controlar a quantidade de dentifrício fluoretado dispensada na escova dental, conforme a faixa etária da criança.
Quem realiza a escovação ?
- Bebês (0-3 anos): a escovação deve ser realizada apenas pelos pais/responsáveis;
- Pré-escolares (3-6 anos): a escovação deve ser realizada pelos pais, mas a criança pode começar a treinar os movimentos de escovação;
- Escolares (6-12 anos): a escovação deve ser realizada pela criança, mas os pais realizam a supervisão ativa, ou seja, finalizam a escovação e escovam onde os filhos não conseguiram limpar corretamente, mostrando para eles onde não foi escovado;
- Adolescentes (12+): a escovação é realizada pelo adolescente, mas os pais participam do processo através da motivação.
OBSERVAÇÃO: No entanto, essas faixas etárias são apenas uma referência porque é o desenvolvimento de cada criança que irá determinar qual nível de envolvimento dos pais será necessário.
Como realizar a escovação ?
1. Técnica: Em bebês e crianças pequenas os pais podem utilizar a posição de 12 horas, com variações que se adaptem ao tamanho da criança (bebês: técnica joelho-joelho ou criança sentada ou deitada na posição de 12 horas). Conforme a criança cresce, pode ser utilizada a posição de Starkey (Criança fica em pé, à frente e de costas para o responsável, que apoia no seu corpo a cabeça da criança).
Uma recente revisão sistemática demonstrou que a técnica mais adequada em crianças com idade abaixo dos 6 anos, é a técnica horizontal modificada (anteroposterior). Em crianças mais a velhas não houve consenso em relação a melhor técnica, portanto, fatores individuais serão determinantes para estabelecer a técnica mais adequada, dentre elas podemos indicar: horizontal modificada (anteroposterior), Stillman Modificada ou técnica de Bass.
Em molares em erupção, que permanecem por um longo período em infraoclusão, o indicado seria a técnica transversal (vestibulolingual). Independente da técnica, sabemos que o mais importante é realizar a escovação de forma sistematizada, ou seja, ter uma sequência durante a escovação. Quando existe uma sequência bem definida e realizada rotineiramente, as chances de os pais/crianças negligenciarem a escovação em determinadas faces diminui. Além disso, devemos orientar os pais sobre a força exercida por eles durante a escovação, em excesso ela pode ocasionar problemas gengivais nas crianças, dor e recusa infantil.
2. Frequência de escovação: A higiene bucal deve ocorrer pelo menos 2 vezes ao dia, salientando que a última escovação deve ocorrer após a última ingestão de alimentos ou bebidas antes de dormir.
IMPORTANTE: A qualidade da escovação é mais importante do que a frequência.
3. Tipo de escova: Existe uma grande variedade de escovas disponíveis no mercado, e a escolha deve ficar a critério dos pais/responsáveis. As seguintes orientações devem ser dadas para auxiliar os pais neste processo:
- Escolher uma escova que apresente cabeça pequena, cerdas macias e um cabo que garanta uma boa empunhadura.
- Em pacientes que fazem uso de aparelho ortodôntico, podemos a troca mais frequente da escova, pois ocorre uma deformação mais rápida das cerdas.
OBSERVAÇÃO: Alguns estudos demonstram que a escova elétrica se equipara a escova convencional, mas se o cuidador ou a criança não souberem manuseá-la podem ocorrer lesões na gengiva da criança. A escova elétrica é uma boa alternativa para pacientes que fazem uso de aparelho ortodônticos fixos ou apresentem necessidades especiais, já que nestes grupos a escova elétrica se mostrou eficaz, desde que associada ao dentifrício fluoretado.
4. Dentifrício fluoretado (mínimo 1.000 ppm de flúor): A quantidade de dentifrício depende da idade. Em bebês com 1 ano é indicado uma quantidade proporcional a meio grão de arroz. Já com 2 anos é indicado uma quantidade proporcional a um grão de arroz. A partir de 5-6 anos já é indicado uma quantidade proporcional a um grão de ervilha.
5. Fio dental: Iniciar o uso a partir do momento em que a criança apresente pontos de contato interproximais. Deve utilizá-lo pelo menos na última escovação do dia.
Referências:
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