Cárie na primeira infância
Definição
A Cárie na Primeira
Infância (CPI) é determinada pela presença de uma ou mais superfícies com
lesões cariosas (cavitada ou não), superfícies perdidas ou restauradas devido à
cárie em qualquer elemento da dentição primária de uma criança com idade
inferior aos seis anos de idade. Embora seja evitável, as lesões de cárie
quando não tratadas podem afetar o desenvolvimento da criança, tanto no âmbito
social, quanto psicológico, no bem-estar e na qualidade de vida (CALACHE et
al., 2019; GAMBETTA- TESSINI et al., WHO, 2019; PITTS et al., 2019;
REDDY et al., 2017).
Lembrando que as lesões
cariosas ocorrem pela dissolução química de minerais do esmalte dentário, isto
é, desmineralização, devido aos processos metabólicos que ocorrem na presença
de açúcar e biofilme (placa bacteriana). Além do esmalte, esta dissolução pode
também ocorrer nos tecidos dentários expostos ao meio bucal, como dentina e
cemento, assim as lesões cariosas podem se apresentar das mais variadas formas
(OLE, 2017).
A CPI é considerada uma doença dinâmica multifatorial, determinada pelo consumo de açúcar e mediada por biofilme que resulta no desequilíbrio entre os processos de desmineralização e remineralização dos tecidos duros dentários. Além disso, é determinada por fatores biológicos, comportamentais e psicossociais relacionados ao meio do indivíduo (PITTS, 2019). Os fatores de risco mais comumente estudados são a dieta, precariedade nos hábitos de higiene oral e falta de exposição a fluoretos (CABRAL et al., 2014; FONTANA et al., 2011; GAMBETTA- TESSINI et al., 2018).
Terminologia
Com o
intuito de obter uma descrição baseada em evidências científicas acerca da
etiologia, fatores de risco e medidas para redução de CPI em todo o mundo, a International Association of Paediatric Dentistry (IAPD), promoveu o Global Summit on Early Childhood Caries
em Bangkok (Novembro de 2018) e contou com 11 especialistas de vários países
para criar o documento intitulado Cárie na Primeira Infância: Declaração de
Bangkok da IAPD (PITTS et al., 2019).
Em fevereiro de 2019, a
Organização Europeia para Pesquisa de Cárie (ORCA) e o Grupo da Associação
Internacional de Pesquisa Odontológica (IADR), realizaram em Frankfurt, na
Alemanha, um workshop para identificar os termos disponíveis na literatura que
melhor descrevem cárie dentária, revisar e adequar termos tendo como base
definições atualizadas (SCARPARO,
A., 2020).
Originalmente foram
sugeridos pelos especialistas 222 termos relacionados a definição de cárie,
avaliação de fatores de risco e monitoramento da doença. Para que o termo fosse
aceito, o resultado da votação secreta entre os experts deveria ser maior que 80% (SCARPARO, A., 2020). O Quadro 1 apresenta a
terminologia utilizada na definição da cárie como uma doença.
Quadro 1: Descrição da terminologia e conceito
dos termos em concordância relativos à definição de cárie como uma doença de
acordo com Machiulskiene, 2019.
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Julgamento clínico que integra as informações disponíveis, incluindo a detecção e avaliação de sinais (lesões) de cárie, para determinar a presença da doença. O principal objetivo do diagnóstico clínico de cárie é alcançar o melhor resultado de saúde para o paciente, selecionando a melhor opção de tratamento para cada tipo de lesão, informar o paciente e monitorar o curso clínico da doença [Nyvad et al., 2015] . |
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Conceito que reflete o equilíbrio mineral, em termos de perda mineral líquida, ganho mineral líquido ou estase ao longo do tempo. A cárie ativa implica o início / progressão da cárie e a cárie inativa implica parada / regressão da cárie [Thylstrup et al., 1994]. |
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Curso provável ou esperado da cárie dentária. |
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Significa que não há sinais detectáveis de cárie dentária. É um rótulo que muitas vezes leva a mal-entendidos. Este termo não deve ser usado sem indicar claramente o nível de limite. |
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Perda de mineral do dente, devido aos ácidos. Na cárie dentária, esse processo é mediado por biofilme, enquanto na erosão, o ácido vem de outras fontes. |
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Ganho líquido de mineral em tecido previamente desmineralizado. A palavra remineralização pode ser enganosa, pois não significa que a lesão recuperou seu conteúdo mineral original. |
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Agrupamento de microrganismos aderidos à superfície do dente. Os microrganismos são incorporados em uma matriz polimérica extracelular (modificada de Hall-Sknownley et al. [2004]). |
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Termo clínico comumente utilizado para se referir ao biofilme dental. |
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Fonte: Adaptado e traduzido de Machiulskiene, 2019.
Por muito tempo a cárie foi relacionada apenas às lesões cavitadas. Hoje, sabe-se que as manifestações clínicas da doença antecedem o aparecimento de cavidade. As terminologias apresentadas (com mais de 80% de concordância) são indicadas para uso em pesquisas científicas, na saúde pública, como também na prática clínica. Assim, é possível que haja concordância em comparações futuras com base em evidências padronizadas.
Epidemiologia da cárie
A epidemiologia é uma disciplina
científica que estuda a distribuição e os determinantes dos problemas de saúde
na população, procurando aplicar os resultados para o controle dos problemas de
saúde. Assim, a epidemiologia procura descrever o quê, quem, onde, quando e por quê/como dos
problemas e eventos de saúde, como a formação de lesões de cárie (FEJERSKOV,
2017).
TABELA XXX – As cinco questões mais importantes da
epidemiologia
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É o indivíduo e suas características pessoais como: características biológicas, características adquiridas, características comportamentais, condições de vida, sexo e idade. |
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É o lugar ou llocalização geográfica (país, região, meio rural, meio urbano, etc.). |
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Refere-se ao tempo, pois o passar do tempo pode alterar a ocorrência da doença. |
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Descreve os fatores de risco e as causas de uma determinada doença, permitindo indentificar os padrões da doença. |
Os achados históricos mostram que a cárie
dentária surgiu como uma doença importante na população, à medida que o
processo de urbanização e industrialização avançava em diferentes regiões do
planeta. A expansão do consumo de açúcar nos séculos 16 e 17 ajuda a explicar a
mudança no cenário global e os níveis de epidemia nas regiões mais
desenvolvidas. Os aumentos nos indíces de cárie e o seu crescimento na populção
tornaram esta doença uma prioridade das autoridades de saúde pública (FRAZAO,
2012).
Na década de 70 foram publicados os primeiros
mapas epidemiológicos, em que os países identificavam os valores de DMFT
comparáveis indicou uma estrutura complexa. Apesar da predominância de níveis
elevados para a maioria dos países, os dados mostraram que a cárie estava
aumentando em algumas regiões menos desenvolvidas e diminuindo em algumas
regiões mais desenvolvidas (FRAZAO, 2012).
Em 1982, em países industrializados, houve
declínio nos níveis de cárie dentária em crianças. As hipóteses mais
importantes eram o amplo desenvolvimento socioeconômico e a disseminação de
métodos de flúor, incluindo a fluoretação de veículos como água, sal e creme
dental (FRAZAO, 2012).
No Brasil, o declínio da cárie em crianças
foi observado pela primeira vez em meados da década de 1990. Foi identificada
uma redução nos níveis de gravidade da doença em adolescentes e adultos em
2003. A expansão do programa de fluoretação das águas na década de 1980
prevaleceu entre as possíveis explicações para o declínio no Brasil. Outra
medida a ser considerada foi a adição de flúor às marcas de dentifrícios mais
comercializadas e a disseminação de seu uso diário nas escolas de ensino
fundamental, após a aprovação de financiamento federal para o desenvolvimento
de programas de flúor tópico escolar (FRAZAO, 2012).
A CPI
é um problema global de alta prevalência e tem grande importância no âmbito da
saúde pública. A Figura 1 mostra a porcentagem de crianças afetadas pela doença
cárie em todo o mundo (WHO, 2019).
Figura XXX: Porcentagem de crianças entre 5 e 6 anos de idade
afetadas por cárie entre 2017 – 2018.
Fonte: Ending childhood dental caries: WHO implementation manual. Geneva: World Health Organization; 2019.
Segundo Kazeminia
et. al., a prevalência de cárie dentária em dentes decíduos em crianças
no mundo, em uma amostra de 80.405, foi de 46,2% (IC 95%: 41,6-50,8%), e a
prevalência de cárie dentária em dentes permanentes em crianças no mundo, em
uma amostra de 1.454.87,1 foi de 53,8% (IC de 95%: 50-57,5%). Também relatou
que houve diferença significativa na prevalência de cárie dentária em dentes
decíduos e permanentes em crianças em diferentes continentes do mundo.
Etiologia da cárie
A etiologia da cárie é multifatorial e
biofilme-dependente, em que as bactérias presentes no biofilme aderido à
superfície dental, ao metabolizar os carboidratos fermentáveis da dieta,
produzem ácidos. O excessivo consumo de açúcar ocasiona uma produção prolongada
de ácidos, alterando o pH bucal. Quando
a produção de ácido é frequente e intensa, acarreta uma desmineralização
dental, resultando na lesão de cárie incipiente na superfície do dente. O
modelo causal compreende três componentes – o dente, a placa bacteriana e a
dieta – e é conhecido como tríade de Keyes (Figura 1).
Posteriormente, este modelo foi expandido para
outros fatores biológicos, como capacidade tampão, fluxo salivar e frequência
de dieta. Fatores socioeconômicos e comportamentais também foram adicionados ao
esquema como fatores etiológicos relacionados à cárie, entre eles:
comportamento, escolaridade, renda, classe social, entre outros (Figura 2).
Figura XXXX - Child, family, and
community influences on oral health outcomes of children.
Fonte: Adaptado e traduzido de Fisher-Owens,
2007.
Hipótese da placa ecológica
A “Hipótese
da Placa Ecológica” é atualmente uma das mais aceitas pelo meio científico e
demonstra que a doença é o resultado de um desequilíbrio que ocorre na
microflora devido ao estresse ecológico, o que resulta no aumento de alguns
“patógenos orais” ou microrganismos relacionados a doenças (MARSH, 1994).
Contudo, apesar de bem aceita esta hipótese não aborda o papel dos fatores
genéticos do hospedeiro que contribuem para a composição da placa dentária,
suscetibilidade à doença (MASON et al., 2013) e para a
disparidade étnica da saúde bucal inclusive de crianças (PREMARAJ, 2020). Além
disso, variações no microbioma oral estão potencialmente implicadas em
desigualdades sociais em doenças bucais (RENSON, 2019).
Figura XXX – Ciclo de doença sugerido levando à cárie, apoiado pela
hipótese da Placa Ecológica (HPE).
Fonte: Adaptado e traduzido de Rosier, 2014.
Diariamente ocorrem pequenas flutuações no pH no meio bucal, isso ocorre
devido a produção de ácidos pelo metabolismo de carboidratos fermentáveis,
sendo realizada pelos microrganismos presentes na cavidade oral.
Essas reduções no pH do biofilme são equilibradas por devido a ação do
fluxo salivar, da atividade metabólica bacteriana compensatória (decomposição
da ureia em amônia e dióxido de carbono, naturalmente alcalinos), aumentando o
pH e estabilizando a composição microbiana do biofilme. Esse estágio não é
capaz de gerar alterações clínicas visíveis no esmalte.
Estágio 2:
Quando ocorre um aumento na frequência do consumo de carboidratos
fermentáveis e/ou a taxa salivar for insuficiente (hipossalivação), o pH do
biofilme dental diminui e nem a saliva e as atividades metabólicas
compensatórias conseguem reverter o quadro.
Ocorre então uma sucessão de microrganismos mais adaptados, o que
favorece a proliferação de microrganismos acidogênicos (capazes de produzir
ácidos a partir da fermentação dos carboidratos da dieta), pH 5,5 a 6,0.
Desencadeando alterações clínicas no esmalte, como lesões incipientes (mancha
branca), devido à perda de minerais e à dissolução da hidroxiapatita.
Estágio 3:
Havendo manutenção da dieta rica em açúcar, com alta ingesta de carboidratos fermentáveis e ausente/inadequada desorganização do biofilme, através de higiene oral com dentifrício fluoretado, o pH pode diminuir para valores entre 4,5 e 5,5, favorecendo a seleção de microrganismos acidúricos (capazes de sobreviver em meio ácido) e acidogênicos. Esse estágio está relacionado à progressão da lesão cariosa (cavitação).
Dignóstico ICDAS
Estudos epidemiológicos
utilizam em sua maioria o índice ceo- d (índice de dentes decíduos cariados,
extraídos por cárie e obturados) para relatar a experiência de cárie do
paciente. Proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), este índice
apresenta desvantagens quando a intenção é avaliar a gravidade das lesões
cariosas. Por este motivo, nos últimos anos foram desenvolvidos novos índices
que buscam entender a progressão da
cárie em um espectro mais amplo, sendo o ICDAS (Sistema Internacional de
Detecção e Avaliação de Cárie) um deles (GARCÍA- PÉREZ et al., 2017; REDDY et
al., 2017). Um grupo de pesquisadores, dentre eles epidemiologistas e dentistas
restauradores, se reuniram em 2002, na cidade de Loch Lomond, Escócia, para
“fundar” este novo sistema baseado no trabalho de Ekstrand et al., 1997. Como o
entendimento acerca da cárie evoluiu, sentiu- se a necessidade de detectar a
doença antes mesmo dos estágios já cavitados. Portanto, o ICDAS classifica a severidade das lesões de
cárie desde os primeiros estágios de desmineralização visual do esmalte, até
cavitações mais profundas com envolvimento da polpa dentária (CALACHE et al.,
2019; GARCÍA- PÉREZ et al., 2017; GUIDO et al., 2011; ISMAIL et al., 2007; REDDY et al., 2017; WU
et al., 2013).
Além disso, esta comissão
desenvolveu um sistema de padronização para a tomada de decisão quanto ao
diagnóstico, prognóstico e gerenciamento da cárie dentária. Também foi descrito
o procedimento completo e padronizado para o diagnóstico de cada critério, como
por exemplo, os métodos de limpeza e secagem das superfícies dentárias (ISMAIL et al., 2007).
Este sistema é composto por dois dígitos. O primeiro representa a presença de selantes ou restaurações e pode variar entre 0 e 8, sendo: 0 – superfície não selada e não restaurada; 1 – selante parcial; 2 – selante completo; 3 – restauração com cor semelhante ao dente; 4 – restauração com amálgama; 5 – coroa de aço inoxidável; 6- coroa ou faceta de porcelana, ouro ou metalocerâmica; 7 – restauração fraturada ou perdida; 8 – restauração provisória. O segundo código diz respeito ao grau de severidade da lesão cariosa na superfície dentária, podendo variar entre 0 a 6: 0 – Sem evidência de cárie após secagem de 5s; 1 - Opacidade ou descoloração visível após secagem prolongada; 2 - Opacidade visível com superfície úmida; 3 - Cavitação localizada em esmalte, sem dentina visível; 4 - Sombreamento escuro da dentina subjacente; 5 - Cavitação em esmalte com exposição da dentina; 6 - Cavitação extensa em esmalte com exposição da dentina subjacente, envolvendo mais da metade da superfície dentária (GUIDO et al., 2011; ISMAIL et al., 2007; REDDY et al., 2017; WU et al., 2013).
O sistema ICDAS se apresenta como um método de detecção - de cáries visíveis - seguro, útil e de fácil uso nas práticas clínicas, até mesmo dentre examinadores menos experientes. Contudo, ainda tem sua utilização limitada em superfícies proximais e lisas.
Prevenção e Tratamento
Prevenção
A prevenção da doença cárie engloba a
realidade onde a criança está inserida, sendo influenciado por fatores
sociocomportamentais, econômicos, ambientais e sociais (determinantes sociais
de saúde).
A prevenção pode ser alcançada com
diversas medidas como:
→
Mudança comportamental dos pais, responsáveis e consequentemente das crianças;
●
Orientações dietéticas conforme a faixa etária da criança;
●
Menor consumo de açúcar no dia a dia
●
Rotina da higienização dos dentes
→
Soluções de saúde pública: políticas de saúde, ambientes de
promoção de saúde.
●
Fluoretação da água potável
●
Exposição tópica com creme dental fluoretado contendo 1000-1500 μg
/ g (ppm) de flúor
●
Cuidados primários: ação multidisciplinar.
●
Profissionais de atenção primária evidenciando a importância do
cuidado dos dentes aos pais, além do impacto negativo da doença cárie na vida
das crianças a partir de treinamento para tá orientação
●
Programas de educação em saúde bucal em pré-escolas, incluindo
escovação dentária com uso de pasta de dente fluoretada.
●
Conscientização da população a fim de melhorar o conhecimento e as
práticas de saúde bucal de pais e responsáveis
●
Controle da exposição de alimentos e bebidas para crianças no
comércio junto a políticas de tributação sobre alimentos e bebidas rico em
açúcares livre.
Essas medidas diminuem o risco de
desenvolvimento da cárie e estimulam a saúde bucal da criança, trabalhando com
a prevenção, e diminuindo os tratamentos de intervenção.
Tratamento
A decisão do tratamento será norteada
por aspectos como a atividade, extensão e localização da lesão de cárie, mas
para que seja alcançado o sucesso do tratamento, deve-se ter o controle da
doença. Ao realizarmos uma restauração, por exemplo, ela não irá evitar uma
recidiva da lesão cariosa.
Pensando na preservação da estrutura
dentária sadia, devemos evitar tratamentos invasivos, por isso utiliza-se
atualmente a abordagem da Odontologia de Mínima Intervenção (OMI). Dessa forma,
é imprescindível realizar o diagnóstico precoce da doença para evitar o seu
avanço, diminuindo a necessidade de medidas mais invasivas. É importante
ressaltar que mesmo em casos de lesão avançada, é orientado o tratamento minimamente
invasivo.
O diagnóstico abrange não só os
dentes, mas além disso, o perfil do núcleo familiar da criança como:
- Nível educacional dos pais
- Nível socioeconômico
- Organização familiar
Essas informações podem influenciar
na tomada de decisão do melhor tratamento já que a adesão às medidas de
controle e prevenção da doença permitem abordagens não tão invasivas, quando
comparado a não adesão e consequentemente ao não retorno ao dentista.
Listamos abaixo as
definições dos termos relacionados ao tratamento de cáries ou lesões de cárie,
definidos no workshop Terminology
of Dental Caries and Dental Caries Management, que teve como
objetivo de discutir e chegar a um consenso sobre as definições dos termos mais
usados em cariologia (MACHIULSKIENE, 2019).
TERMOS RELACIONADOS AO TRATAMENTO DE
CÁRIES OU LESÕES DE CÁRIE:
Monitoramento de lesão de cárie: Avaliação episódica do efeito de uma intervenção ou do comportamento natural no estado clínico e / ou radiográfico de uma lesão de cárie.
Tratamento/gerenciamento/controle/cuidado não operatório da cárie: Medidas não cirúrgicas que interferem no início de uma nova lesão cárie e na taxa de progressão da lesão cárie [Carvalho et al., 1992]. Este tratamento visa manter o processo de cárie em nível subclínico e / ou deter a progressão da lesão de cárie em nível clínico / radiográfico [Carvalho et al., 2004]. Os elementos-chave podem incluir escovação com creme dental com flúor, outros tratamentos com flúor, modificação da dieta, medidas de higiene oral, etc. (Vedação / infiltração não são unanimemente reconhecidas como medidas de tratamento não cirúrgicas, mas são outra forma não cirúrgica de controlar a cárie).
Tratamento cirúrgico (restaurador) de cárie (cuidados): Intervenção cirúrgica para colocar uma restauração e controlar a cárie, para ajudar no controle do biofilme e, normalmente, para restaurar a forma e a função.
Tratamento de cavidade não restaurador / não cirúrgico: Abordagem para tornar as lesões de cárie cavitadas acessíveis à limpeza dos dentes por meio da remoção das margens de esmalte salientes [Hansen e Nyvad, 2017; Santamaria et al., 2017].
Fluoretos tópicos: São todos os métodos de aplicação local de flúor nos dentes. Eles podem ser divididos em autoaplicáveis (pasta de dente, enxágue, géis) ou aplicados profissionalmente (géis, vernizes, espumas, soluções).
Fluoretos sistêmicos: São fluoretos ingeridos. Historicamente, esse termo se referia a um suposto efeito sistêmico. Atualmente, esses métodos de liberação de flúor, como a água fluoretada e o sal, são utilizados como medidas de saúde pública que atuam por meio de um efeito tópico quando em contato com os dentes.
Odontologia de mínima intervenção: É uma filosofia holística de gerenciamento de cárie que integra o controle da lesão de cárie e a intervenção cirúrgica mínima. O objetivo principal é a preservação do tecido, incluindo detecção precoce de cárie e tratamento não operatório, combinado com procedimentos restauradores minimamente invasivos [Frencken et al., 2012].
Selante Preventivo / Vedação: Aplicação de uma fina barreira física sobre um local hígido, a fim de prevenir o início de uma lesão de cárie. Eles podem ser aplicados em fossas, fóssulas e fissuras usando resina composta ou cimento de ionômero de vidro.
Selante Terapêutico / Selagem: Aplicação de uma fina barreira física sobre uma lesão de cárie para prevenir sua progressão. Eles podem ser aplicados a fossas, fóssulas, fissuras e superfícies lisas [Martignon et al., 2006; Alkizy et al., 2009] usando resina composta ou cimento de ionômero de vidro.
Infiltração de cárie: Intervenção microinvasiva pela qual os poros de uma lesão de cárie não cavitada são infiltrados com resina de baixa viscosidade após o tratamento da superfície com ácido clorídrico [Paris et al., 2007].
Tratamento restaurador atraumático: Abordagem de gerenciamento de cárie para economia de tecido que usa instrumentos manuais para abrir cavidades de cárie e remover dentina cariada, seguida de restauração com ionômero de vidro de alta viscosidade. A técnica não requer acesso a equipamentos movidos a eletricidade e água corrente [Frencken et al., 1996].
Tratamento de cárie ultraconservador: Termo usado para definir o método de restaurações adesivas e seladas colocadas diretamente sobre lesões cariosas cavitadas que se estendem para a dentina [Mertz-Fairhurst et al., 1998].
Remoção de cárie: A remoção da cárie é a remoção do tecido cariado pelo uso de brocas, escavadeiras manuais ou outras técnicas.
Remoção completa de cárie / remoção não seletiva de cárie para dentina endurecida: Escavação da dentina endurecida em toda a cavidade. Essa técnica não é mais recomendada [Innes et al., 2016].
Remoção parcial de cárie: Método de escavação pelo qual a dentina cariosa é removida das paredes periféricas/circundantes de uma lesão de cárie cavitada profunda (escavada na dentina endurecida), seguida pela remoção parcial da dentina amolecida da parede pulpar com cureta manual [Bjørndal et al., 1997; Maltz et al., 2018] ou broca esférica. O tratamento é indicado para lesões profundas da dentina para evitar a exposição pulpar.
Remoção seletiva de cárie para dentina amolecida: Remoção seletiva de cárie para dentina amolecida é um termo alternativo para remoção parcial de cárie [Innes et al., 2016].
Remoção seletiva de cárie para dentina firme / coriácea: Remoção seletiva de cárie para dentina firme / coriácea é a escavação para dentina firme / coriácea (fisicamente resistente à escavação manual) no aspecto pulpar da cavidade. A periferia da cavidade deve ser escavada em dentina dura [Innes et al., 2016].
Remoção de cárie por etapas: Escavação de cárie em duas (ou mais) etapas, com um intervalo de tempo entre as etapas, para estimular a deposição mineral na dentina antes da escavação final [Bjørndal et al., 1997]. A primeira etapa é a escavação parcial da cárie seguida pela remoção adicional da cárie em dentina firme em uma data posterior [Innes et al., 2016].
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